segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Carnaval com neve

Os Barões da Sé de Viseu desejam  a todos os amigos e leitores do blog um super, hiper Carnaval.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Casa do Chapeleiro Sr. António

A antiga casa do Jorge "Bareta", na calçada de acesso entre a Rua do Bispo e a Tia Iva apresenta agora este novo e moderno design.
07 de Fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Cidade das 7 Torres

À chegada, a primeira coisa que se avista são as torres das suas igrejas. Depois é a descoberta de um centro medieval, vestígios de muralhas e antiga judiaria. Tudo, no centro comercial da região centro.

Tínhamos acabado de chegar à cidade e ainda se viam magotes de gente espalhados pela praça do Rossio. Por causa do trânsito falhámos o cortejo das Cavalhadas de Vil de Moinhos, um séquito histórico-etnográfico, típico de Viseu. Naturalmente, os aldeões das terras vizinhas que correram à capital de concelho envergam os seus melhores trajes domingueiros: os homens puseram o chapéu menos coçado pelo sol; as mulheres exibem o ouro luzidio que sobressai sobre as roupas escuras. As pastelarias do centro, em redor da Praça do Rossio, estão apinhadas por quem tenta enganar a sede com uma imperial ou uma taça de vinho branco. Nas ruas laterais, algumas fechadas ao trânsito, o movimento não é menor. Com cerca de 21 000 habitantes, Viseu fica sobre o planalto da Beira, a aproximadamente 300 quilómetros de Lisboa, numa importante encruzilhada de caminhos.

Rodeado por pinhais, em dias claros é possível avistar as vizinhas serras do Caramulo, da Gralheira, de Montemuro e da Nave.Cabeça de um concelho predominantemente agrícola - produz batata, cereais e o delicioso vinho do Dão -, Viseu é, por excelência, o centro comercial da Beira Interior. O painel de azulejos que cobre uma parede no Rossio foi desenhado por Joaquim Lopes mas já ficou para trás quando cruzamos a Porta do Soar, pertencente à antiga muralha afonsina, construída em 1472, de que apenas subsiste um pequeno troço. Ruas estreitas e tortuosas conduzem à cidade velha. Desertas, são uma benesse depois do mar de gente em que tínhamos mergulhado no centro. Os carros enchem o centro histórico e são o toque de modernidade em ruas que parecem ainda medievais: no seu traçado, claro, mas também nas casas de pedra ou de madeira, pequeninas e de portas baixas, nas varandas em balcão ou nos velhos candeeiros de rua.

Estamos agora no cerro mais alto da cidade, o Adro da Sé, local onde se terá iniciado o povoamento desta terra, num velho castro. Alberga a imponente catedral construída entre os séculos xiii e xiv, a Igreja da Misericórdia e o Museu Grão Vasco. Há quem o considere o largo mais bonito do País, com as suas torres pesadas, os muros velhos coroados de ameias e a patine densa das pedras. Actualmente, a catedral está a ser recuperada e há material de obras espalhados por todo o claustro. Na igreja-mãe os serviços religiosos decorrem na penumbra - o que também dificulta a visita -, e o Museu de Arte Sacra está temporariamente encerrado. Ao lado, o Museu Grão Vasco foi instalado no antigo Paço dos Três Escalões, edifício do século xvi que já foi paço episcopal e colégio-seminário.

A Praça D. Duarte é uma homenagem ao infante nascido nesta cidade, depois rei de Portugal, e enquadra-se num emaranhado de ruas que desembocam na Rua Direita, uma das mais antigas e pitorescas da cidade. Estas ruelas, aconchegadas por edifícios antigos com janelas de cantaria e varandas de ferro forjado, viveram os tempos áureos do comércio e ofícios, entre os séculos xiv e xvi. Na parte alta da cidade residia, então, uma importante colónia de judeus, de que ainda existem marcas nas pedras da calçada. Em alguns entroncamentos de ruas o chão está gravado com insígnias judaicas - a estrela de David é a mais frequente -, gastas de tão pisadas.

O monumento mais antigo da cidade fica num dos seus extremos, depois de atravessarmos o rio Pavia. A Cava de Viriato, provavelmente do século ii, deverá ter sido um reduto defensivo levantado para aquartelamento das legiões romanas. Erguido muito depois da morte deste herói lusitano, deve o seu nome a uma tradição que diz ter Viriato andado por estas terras. O acampamento, implantado num fosso, tinha a forma de um octógono de que restam apenas dois lados, medindo cada um 240 metros. Hoje está retalhado por casas agrícolas, pequenas hortas e pomares e não se consegue vislumbrar qualquer vestígio arqueológico. O maior monumento romano de toda a Península Ibérica está rodeado de frondosas árvores e bancos de pedra mais adequados ao namoro do que a um passeio erudito.

Rotas e Destinos

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Os Judeus em Viseu

Desde muito cedo os judeus se fixaram na região de Viseu, aumentando o seu número com a vinda dos seus confrades castelhanos que procuraram, em 1395 nas serras e na zona raiana, refúgio para as perseguições violentas que vinham sofrendo.

Os Judeus viveram inicialmente junto dos Muros Velhos na colina da Sé e as sepulturas dos seus mortos, que não podiam ficar a menos de 50 passos da última casa da Judiaria, localizar-se-iam fora de portas, possivelmente, perto das três saídas da cidade, junto de árvores e arbustos.

Por volta de 1412, a pedido dos moradores de Viseu, D. João I manda construir novas muralhas. No entanto, foi interrompida a sua construção poucos anos depois.

A cidade que se vira saqueada, queimada e destruída inúmera vezes pelos corredores de Castela, só verá as suas muralhas concluídas em 1472, no reinado de D. Afonso V, depois de muitas reclamações em Cortes pelos procuradores do povo da cidade.

Em 1468, D. Afonso V ordena o encerramento das portas e janelas das casas da judaria sob pressão dos procuradores dos concelhos. Maria José Ferro Tavares, reportando-se a documentos da Changelaria de D. Afonso V, informa-nos que os judeus da Comuna de Viseu eram obrigados a fechar as portas e as janelas abertas para a zona cristã de pedra e call e a maneira de seteiras com huu ferro por meo dellas ao longo, as quaes sejam altas do chão em guissa que nom contenham lugar pera olhar solvo pera lume e doutra guissa nom.

No evoluir da História, as multas e penas foram aligeiradas até chegarem a ser inexistentes, sempre que a ausência do judeu do seu bairro, depois dop toque das Avés-Marias, fosse justificada pelos interesses ou necessidades de população cristã. Assim, se alguns judeus viessem de fora da Vila ou Cidade a caminho ou de alguma quinta e lhes anoitecesse no caminho ou ainda viessem de barca per mar de noite não incorriam em qualquer pena. Igualmente, os rendeiros das Sisas D´el Rei que arrecadassem as suas rendas de noite e não frequentassem casa sospeita não eram penalizados se acompanhassem cristãos. Determina-se que os judeus que fossem chamados a casa de cristão, por causa que ao chrisptaão, ou ao Judeo for grande necessidade ou mester, que possa[m] allá hir, com tanto que leve candea (...). Estavam neste caso os físicos, os cirurgiões e outros mesteirais se pera seus Offícios e Mesteres forem chamados. (Ord. Affons. Liv.2, Tit. LXXX, ァ 1-14).

Exercendo as mais diversas profissões, eram tolerados como minoria religiosa, num frágil e precário equilíbrio criado pelas necessidades das guerras, dos povos e dos reis. Eram, no século XV, mercadores, almocreves, ferreiros, armeiros, lagareiros, adegueiros, sapateiros, algibebes, peliqueiros e tosadores, tintureiros, tendeiros, físicos, boticários, ourives, licenciados, proprietários de linhares, vinhas e olivais, pequenos agricultores e arrematadores de impostos do rei, da nobreza e do clero.

Viseu [situava-se] num importante ponto estratégico, já antes reconhecido pelos construtores da Cada de Viriato. Essa mesma razão estratégia levou à construção da rede viária irradiante de Viseu [...]. O ponto de partida de todas estas vias situar-se-ia algures num triângulo com vértices no Largo de Santa Cristina, Capela de S. Miguel e Largo Mouzinho de Albuquerque, três pontos junto dos quais se situavam três importantes necrópoles romanas [...]. A cidade teria dois eixos principais, o cardo e o decumanus, permanecendo os vestígios desses arruamentos na Rua Direita e Rua do Gonçalinho, respectivamente, adaptando-se à topografia do terreno, na encosta da Sé.

Do povoado aberto inicial, Viseu passou a praça fortificada recebendo uma muralha de 1,5 m de espessura, quando as hordas invasoras começaram a ameaçar as fronteiras pacíficas do Império (J.L. da Inês Vaz et Alt.).

As vinhas dos Judeus

Em Viseu, cidade com características predominantemente rurais, a minoria judaica circulava à vontade consoante as suas ocupações. Os judeus frequentavam mercados e freiras das redondezas onde alugavam casas e tendas. Viviam na judiaria da cidade e também nos arrabaldes e aldeias vizinhas.

Nas suas errâncias de mercadores seguiam as vias romanas que, irradiando da cidade, os conduziriam ao litoral ou à praia, ao Norte ou ao sul. De Viseu, proprietários ou arrendatários partiam para os campos limítrofes, talvez pela porta do Senhor Crucificado, para as Vinhas dos Judeus que pensamos poder localizar no concelho de Ranhados. Na Alagoa, Jugueiros, Rio de Loba, Nogueira, Silvã, Arroteia; valbom, Faíl e Besteiros traziam também arrendados olivais e vinhas, hortas e lagares.

Os tributos pagos pela vinho, os lagares e o número de adegueiros permitem, claramente, colocar esta região num lugar importante na produção de vinho.

O relego de Viseu, na posse do Infante D. Henrique, confirma-o, pelas inquirições feitas em 1433 e pelas avultadas quantias em imposto pagas por estes produtos: Vinhas havia-as por toda a Beira, especialmente nas terras marginais a Viseu, no Rio Dão, que corria o almoxarifado, na linha Douro Calvo – S. Gemil. A Inquirição deixa em cadastro uma produção de 3733 almudes e meio, o que equivalia até 93 500 litros, na medida máxima de um almude para cerca de 25 litros. À testa vem, Besteiros (...)(João Silva de Sousa).

Os judeus de Viseu como os das outras comunas do reino não tinham só uma actividade. Nos documentos em arquivo há referência a ferreiros que aforavam hortas e chãos, a sapateiros que arrendavam casas com cortinhais e almuinhas (hortas fechadas), a mercadores que eram rendeiros do rei da nobreza e do clero, a licenciados que eram proprietários de vinhas e olivais; a tendeiros que tratavam e vendiam peles. A fisionomia de Viseu era, com toda a certeza, bem diferente da de hoje. Hortas, olivais e vinhas ocupavam espaços agora densamente urbanizados. As oficinas e tendas das ruas da judaria eram frequentadas por cristãos, homens e mulheres. Vinham procurar o sapateiro e o alfaiate, os ferreiros e os albardeiros mais competentes, os tendeiros que ofereciam as quinquilharias vindas de outras terras, os boticários e as suas ervas de curar.


Monteiro, Isabel (1997) Os Judeus na Região de Viseu: a História, a Cultura, os Lugares. Edição da Região de Turismo Dão Lafões.

Figueiredo Dias homenageado

Um dos juristas de maior vulto em Portugal foi homenageado na sua terra Natal. Jorge Figueiredo Dias recebeu da mão do presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, a Medalha de Mérito, tendo considerado o momento como aquele que "de todas as coisas que poderia almejar, é o mais extraordinário de todos".

Perante um salão cheio familiares, amigos e individualidades ligadas ao sector judicial, Figueiredo Dias lembrou que sempre teve Viseu como a cidade de "encontro", até pela sua localização e pelo seu passado histórico (passagem de várias estradas romanas). E é precisamente na história que o seu nome também vai ficar ligado, ao ter cedido a antiga casa onde nasceu, na Rua Direita, à autarquia viseense que agora ali espera construir uma sinagoga.

"Um modelo" para todos, foi como Figueiredo Dias foi distinguido quer pelo presidente da Câmara, quer pela própria Ordem dos Advogados que esteve representada em Viseu.

Figueiredo Dias, além de professor em várias instituições nacionais e internacionais, é também presidente do Conselho Científico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Conhecido como o "pai" do Código Penal, este viseense foi deputado à Assembleia da República de 1976 a 1978 e fez parte do núcleo de fundadores do PPD/PSD, tendo sido vice-presidente entre 1996 e 1997.

O jurista foi também membro da Comissão de Acompanhamento da criação de uma Unidade Orgânica da Universidade de Aveiro em Viseu.

Em 1984, condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
 
noticia in Diário de Viseu de 01 de Fevereiro de 2010